Podemos viver sem a maioria das coisas por longos períodos, praticamente sem qualquer coisa, mas não sem a nossa alegria. E quando nossa alma se aquieta pedindo colo começamos a farejar primeiro dentro, depois sondamos ao redor, em cima e embaixo, em qualquer canto recôndito que escondemos de nós mesmos, nos deixando ser conduzidos e surpreendidos pelo que se apresentar primeiro. Pelo gesto, pelo cheiro, pelo som ou pelo gosto. Ou por todas as lembranças. Pelo que fomos ou pelo que gostaríamos de vir a ser.
Nessa varredura lenta e desfocada a princípio, vamos detectando quem são ou quais são os nossos predadores. O que está limitando nosso espaço, asfixiando nosso ar, revirando nossas entranhas!
Nem sempre queremos ver com nossos próprios olhos o que nossa alma já pressentiu e sabe. Como não sabê-lo? Como continuar camuflando tanta falta de jeito para lidar com nossa essência? Como deixar que isso continue acontecendo com nossas verdades e vontades mais profundas?
E hoje, que amanheci farejando, desci ao meu porão, abri todas as janelas e deixei o sol entrar. Fui ofuscada por tanta luz e tanta energia, que estavam ali, à minha disposição, só esperando meu movimento. Ah! Os movimentos! Ansiamos tanto por eles em nossa direção, sempre esperando, esperando, mal sabendo que podemos provocá-los, desamarrar os nós e liberar nossa dança à procura do solo fértil, dos afluentes do nosso rio, das ondas majestosas daquele mar, do solo sagrado a ser arado, da lua mágica e cíclica...
Que até passe da hora, mas que não passe sua vontade de buscar e de querer criar o passo certo da dança, a sinfonia mais perfeita, a construção precisa e necessária; aquele balé sinuoso insano e solto e aquele poema inacabado, que irá alinhar e alinhavar pensamentos e sentimentos, que irá tocar e comover alguns corações no reencontro tão esperado.
Mas será que dá tempo? De plantar nesse jardim todos os lírios do campo? Apesar de o dia ter amanhecido nada hospitaleiro, ele foi transformado. Nossa sensibilidade é muito sábia para detectar quando há falta de alguma coisa, principalmente da alegria pura e genuína que é nossa melhor bússola.
E agora eu sei como abrandar essa voz que grita loucamente! Agora que eu a ouvi e que fiz meu movimento, fiz a limpeza seletiva do meu porão, a ordem e a paz serão resgatadas e restabelecidas.
Continuarei farejando. Mas agora eu sei!
Eliezete De Luna Freire é autora do livro
www.odeiocomputadores.com.br
e-mail : eliezeteluna@yahoo.com.br
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