A agressividade faz parte do ser humano. É um 'feature' do produto, tem função evolutiva. Para se defender de predadores, o animal homem se vale de sua agressividade, aliada a criatividade e inteligência. Fugir de um leão faminto na savana deve acelerar muito o processo criativo em busca de uma solução, além de contar com uma boa dose de adrenalina e força muscular pra subir numa árvore em segundos.
Ok, o mundo atual é 'uma selva de pedra' e tal. Mas não estamos sob ataque de vida ou morte na Internet, por exemplo, ninguém vai morrer de email, post, artigo ou tweet, por pior que ele seja. Não estou falando de um estado extremo, portanto, de sobrevivência, mas de um comportamento intalado e que percebo mais intensamente agora. Estamos todos mais belicosos.
A primeira coisa que noto é o julgamente apressado. E, como costuma acontecer, errôneo. Como bem colocou o @oKastelo no Twitter "a justiça humana não tarda, mas falha". E como falha. Mas, por que julgamos tão apressadamente e tendo como base a opinião de um lado só? Porque não somos isentos. Porque não fazemos 'jornalismo imparcial' na vida, ao contrário. Estamos sempre buscando a reafirmação do que já achamos.
Sempre que você acha um 'pensamento' bonito, é porque você concorda com ele, porque existe ressonância entre o que você já pensa e o que está lendo. Ou seja, estamos sempre RETROALIMENTANDO nossas opiniões, crenças e convicções, sejam elas lógicas ou não, lúcidas ou não, embasadas ou não. Se você acredita que gato preto dá azar, vai fazer muito pouco para questionar ou mudar essa crença e vai fazer sempre muita coisa para reafirmar, explicar, justificar ou disseminar essa crença. Assim somos.
Além do julgamento insensato, apressado e falho, há também a condenação imediata. A sequência é mais ou menos assim: eu acho->eu julgo baseado no que eu acho->eu condeno baseado no que eu julgo e eu já parto pra ofensa pública, num átimo. E por que isso acontece? Porque não nos importamos com ideias ou situações, mas pessoas.
Você não gosta de mim, por exemplo. Portanto, já estou julgada e condenada. Tudo o que você procurar, pesquisar, ler, interpretar, será no sentido de CORROBORAR, justificar, encontrar motivos para provar que eu realmente não mereço seu respeito. Nas fotos vai ver meus defeitos, nos textos vai procurar incoerências, nos vídeos vai implicar com tudo, nas discussões vai ficar contra mim. Por que? Porque você, eu, todo mundo quer ESTAR CERTO. Estar CERTO é muito mais gostoso do que ser JUSTO.O cérebro gosta de acertar e não de ser imparcial.
E por que alguém não gostaria de mim, de você, ou da Glória Maria, por exemplo? Porque alguma coisa EM NÓS ecoa mal quando nos deparamos com a pessoa. Não é algo errado NELA, mas algo errado EM NÓS.
Eu, por exemplo, posso não gostar de muitas atitudes da Glória Maria, já que falei nela, mas eu não tenho nenhum motivo justo para falar mal dela porque nem a conheço pessoalmente! Não convivo com ela, pra começar, não sei que pessoa ela é. Mas todos nós fazemos isso full time com os 'artistas' e 'celebridades'. Eu também faço. Uma hora você condena porque a pessoa faz jejum, outra hora você odeia porque acha que ela é arrogante, depois fica emocionado porque ela adotou duas meninas. É tudo DA SUA CABEÇA, a Glória Maria não está interagindo COM VOCÊ. Falo isso porque odeio isso em mim e sempre me pego fazendo essa imbecilidade. Eu olho a foto da Glória Maria de salto alto no paralelepído e meu cérebro doente já diz: 'alá! acertei em não gostar da Glória Maria, olha que salto mais inadequadro pra esse chão!'. Ridículo, não? Pois acontece sem parar o tempo todo com quase todos os cérebros.
E assim vamos, criando um mundo fantasioso e contaminado, 100% ilusório e injusto, que nos afasta tanto da realidade como da sensatez.
E por último, mas não menos importante vem a a paranoia. Ah, a paranoia! É o preço da megalomania, a culpa gigantesca. A pessoa se sente tão culpada por ser agressiva, por julgar todo mundo, por ser cruel, invejosa, que tudo o que ela lê ou vê de ruim já acha que é com ela. Qualquer frase, provérbio, parece ser intencionalmente pra ela. Claro, né, ela está vendo com os olhos da culpa.
No Twitter, rede que frequento muito, tenho sentido os ânimos exaltados, beirando o descontrole geral. As pessoas tratam os outros com desdém e agressividade, como se tivessem passado a vida esperando por uma oportunidade de sair acusando. Às vezes, de fato, o outro se engana. Mas aí, entra a frase do Dalai Lama: 'o fato de você ter razão não lhe dá o direito de ser estupido'. Eu também caio nessa armadilha e, uma ve z ou outra consigo me controlar. Hoje eu consegui e fiquei feliz. Uma moça distraída passeava um imenso cachorro. Ele fez cocô e ela saiu andando sem recolher as fezes. Pensei em correr e ir lá exigir que ela o fizesse, mas vi que ela estava ao celular. Nem deve ter visto. Então, em vez de ACUSAR eu PERGUNTEI. Sabe, o 'in dubio pro reo', na dúvida, em favor do réu? Perguntei se ela tinha reparado que o cachorro havia deixado coco na calçada. Ela disse que não viu. Eu ofereci um saquinho plástico, fui com ela até o local e ela recolheu, sorriu, agradeceu e desejou um bom dia. Melhor assim, não?
Portanto, se a gente não quiser quebrar a Internet, estragar os blogs, desandar o Twitter, piorar o ser humano, é bom baixar um pouco a bola. TODOS NÓS. Respire fundo, diferencie o que é SEU julgamento do que é a verdade, o que é SUA cisma e o que é a atitude ou intenção do outro.
E, sobretudo, tire esse dedo do gatilho. A gente reclama da bala perdida do policial, que mata inocentes, e nem percebe as balas morais que atiramos sobre pessoas que não fizeram rigorosamente nada.Nada. Pessoas que você acusa porque não gosta, não de identifica, não tem simpatia. Vai saber por quê.
Pare de acreditar só no que é ruim, de consumir só o que é maléfico, de dar ouvidos para o pior lado, de julgar sem saber, de alimentar seu monstro interior.
Larga essa pedra, vai.
Tá, não larga, então.
Mas não atire a pedra em ninguém.
Coloque-a sobre um lindo bonsai.
Tá, não larga, então.
Mas não atire a pedra em ninguém.
Coloque-a sobre um lindo bonsai.
Rosana Hermann
http://migre.me/3PwoZ
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