Era
uma vez um sujeito que passava sempre por uma rua com uma vila de casas a
caminho do trabalho.
E
nesta mesma rua, à tardinha, quando ele retornava para casa olhou para dentro
de uma das casas e lá no fundo viu a silhueta de uma jovem que parecia fazer um
balé com tal suavidade e leveza que o encantou profundamente. Ao lado uma
professora que lhe corrigia o bailado.
A
dança fascinante se repetia por todas as tardes à mesma hora e o rapaz ficava
cada vez mais impressionado e atraído, a ponto de aguardar ansiosamente as
tardes da semana só para assistir aqueles pequenos segundos de balé de braços
sedutores que tanto o seduzia... Mesmo que por poucos segundos eram braços que
balançavam no ar como Durga, a deusa indiana de muitos braços se agitando no ar
como a dizer: -Venha, venha, venha para mim...
Uma
cortina fina e branca na janela atrapalhava sua plena visão da jovem,
impossibilitando que conhecesse a face da juvenil dançarina.
Mas
era preciso conhecê-la, pois se sentia totalmente atraído e apaixonado. Era
preciso abrir-lhe o coração e contar sobre seu amor verdadeiro.
Fantasiou
o dia que entraria a primeira vez por aquela porta, sentaria naquele sofá da
sala logo atrás da cortina aguardando os pais da moça para finalmente pedi-la
em casamento.
Alguns
meses depois um amigo foi visitar-lhe e o rapaz sentiu enorme vontade de
dividir com ele aquele segredo que não mais cabia em seu coração.
Esperou
a hora mais conveniente, que foi após o jantar. Pegou o colega pelo braço e
começou contando-lhe que finalmente conhecera o amor. Que ainda platônico e
cheio de receios e medos pensava num modo de aproximar-se de sua bailarina que
desconhecia ser comprometida ou não.
Levou
o companheiro até em frente à casa da amada e ao contar-lhe a história, entre
constrangimento e decepção, quase não acreditou na sonora gargalhada que ouviu
do amigo:
-Você
está louco rapaz, aí é a casa da minha tia. Ela é costureira e o que você vê
todas as tardes não passa de um manequim.
Muita
gente vive desta forma: fantasiando e enfeitando a realidade.
E
perde-se o ponto onde é realidade e fantasia. Talvez porque criar um mundo
irreal seja muito mais bonito e perfeito daquele que se tem.
E
vai se vivendo pela vida a fora entre este dois mundos. Entre sonhos e
fantasias.
Lembrei-me
de uma frase que li não sei exatamente onde mas que dizia assim:
Fantasiar é da nossa natureza,
compartilhar é um delicioso ato de coragem e transformá-las em realidade não
é para desavisados!
(( Prof.
Rita Alonso – www.ritaalonso.com.br ))
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