13 de jan. de 2013

Entre a Luz e a Sombra.


Escrevo este texto à luz de velas. Acho que houve um apagão no meu bairro ou mesmo em São Paulo. A escuridão nos cômodos me deu a chance de fazer algo que adoro: acender todas as velas da minha casa. Cada uma em seu formato, colocada em um suporte diferente, em muitos cantinhos do sobrado onde vivo. O ar mágico desses pontos de luz me faz repensar o mundo. Relembro que de repente tudo se apaga. Estamos, mas ao mesmo tempo não estamos. Partimos, mas algo de nós sempre fica. Somos finitos e infinitos, fugazes e eternos. Olhos os castiçais de luz e o breu à volta. É bonito. Percebo o silêncio. Tenho medo da escuridão. Sim, lembro que desde criança nunca consegui dormir no escuro. E até hoje não me sinto bem na escuridão. Mas precisamos dela. Para nos recolher, nos reconhecer, nos aquietar.

Nos últimos nove anos da minha vida, comecei a gravar um filme Entre a Luz e a Sombra. Nunca soube ou imaginei que o que gravava, seria um filme. Foram anos de mergulho na minha escuridão e na minha luz. Um encontro, um reconhecimento do meu ser. Foi um caminho na vertical de um tema que já estava habituada a contar, sobre os menos privilegiados, os que vieram da periferia, os prisioneiros. Não era a primeira vez que tinha contato com essas temática, mas não esperava que este mergulho seria tão duradouro. Desde os dezoito anos de idade, quando vim de Belo Horizonte sozinha para São Paulo para fazer faculdade de jornalismo, sabia que era isso o que gostaria fazer. E foi o que sempre fiz como repórter. Através do meu trabalho como jornalista queria ajudar a transformar o mundo. Utopia, idealismo? Pode ser, mas foi esta crença que alimentou minha alma desde aquela época. Adorava ir para as favelas do meu país e conhecer de perto esta realidade. Sentia que era lá que entrava em contato com a essência do ser humano, com seus valores mais puros: a humildade, a solidariedade, as coisas simples.

(volto a escrever alguns dias depois, pois a bateria do meu laptop acabou naquele dia….)

Mas apesar de toda essa vivência é difícil para mim descrever o que foi fazer Entre a Luz e a Sombra. Sei que foi um processo longo, árduo, doloroso e de profundas transformações. Em muitos momentos o processo que vivia no filme se refletia diretamente em minha vida. Em outros, as mudanças que fazia na minha vida ajudavam-me a avançar no filme. Foram inúmeros obstáculos. Muitas vezes pareciam intransponíveis. Acredito que se minha fé foi testada, hoje posso dizer que sim, sou uma pessoa de fé. Vivo nela e é o que tem me sustentado em tantos momentos de medo.

Vejo o medo como algo a ser enfrentado, superado, mas com coragem, nunca com a violência. Este filme fala disso, dos sonhos, da vontade de mudar nosso país, dos nossos obstáculos internos, da sociedade brasileira envolvida num caos de valores. Fala também de nossas ambigüidades, desilusões, nossos preconceitos e das nossas possibilidades de dar a volta por cima apesar de tudo.

Aprendi muito com Entre a Luz e a Sombra, seus personagens, os profissionais que trabalharam nele e tantos amigos que estiveram ao meu lado em diferentes momentos nos últimos nove anos.

Esta semana, no dia 27 de novembro, Entre a Luz e a Sombra entra em cartaz no cinema em São Paulo, Santos e Belo Horizonte; dia 4 de Dezembro no Rio de Janeiro e depois, provavelmente, em outras cidades brasileiras.

Ele já passou por muitos festivais dentro e fora do Brasil em lugares como França, Holanda, Bélgica e África e o sonho de compartilhar esta história com os brasileiros se aproxima.

No começo da semana que passou, aconteceu a primeira pré-estréia dele no cinema em Belo Horizonte, minha terra natal. Por um acaso do destino uma forte tempestade e um novo apagão na cidade ocorreram poucas horas antes da exibição. Dirigia-me ao cinema e observava muitas árvores derrubadas no trajeto e a cidade sem luz, num trânsito em completo caos. Em nenhum momento tive dúvida que aquela pré-estréia aconteceria. Sabia que de algum jeito o filme estava protegido. Ao chegar ao cinema percebo que o quarteirão dele estava iluminado e todos os outros, a partir dele, na escuridão. A rua do cinema estava exatamente entre a luz e a sombra. Aquele cenário parecia-me um sinal de diálogo forte da natureza com o filme e com tudo o que ele e eu vivemos ao longo destes anos. Em meio à tempestade e ao apagão, o filme foi exibido. Nem todas as pessoas que planejaram ir conseguiram chegar, mas outras foram e tivemos uma afetuosa pré-estréia.

Entre a Luz e a Sombra nasceu e foi acolhido pelo coração amoroso dos mineiros e sedimentado nas raízes das montanhas da terra onde nasci. Ele chega ao mundo amigo do vento, libertário, em busca de horizontes para o nosso país, belíssimos horizontes.

Espero poder compartilhar também com você do reflitasempre  esta aventura humana inesquecível…

Luciana Burlamaqui 


ZORA Mídia - São Paulo - Brasil 

lburlamaqui@yahoo.com 

Confira, clicando aqui o site oficial do filme 

Assista, clicando aqui um canal do filme com todos os vídeos sobre ele até o momento.

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