Ainda que
pasmem os leitores, ainda que não acreditem e passem, doravante, a chamar este
escritor de mentiroso e fátuo, a verdade é que, certo dia que não adianta
precisar, entraram num restaurante de luxo, que não me interessa dizer qual
seja, um ratinho gordo e catita e um enorme tigre de olhar estriado e grandes
bigodes ferozes. Entraram e, como sucede nas histórias deste tipo, ninguém se
espantou, muito menos o garçon do restaurante. Era apenas mais um par de
fregueses. Entrados os dois, ratinho e tigre, escolheram uma mesa e se
sentaram. O garçon andou de lá prá cá e de cá prá lá, como fazem todos os
garçons durante meia hora, na preliminar de atender fregueses mas, afinal, atendeu-os,
já que não lhe restava outra possibilidade, pois, por mais que faça um garçon,
acaba mesmo tendo que atender seus fregueses. Chegou pois o garçon e perguntou
ao ratinho o que desejava comer. Disse o ratinho, numa segurança de conhecedor
- "Primeiro você me traga Roquefort au Blinnis. Depois Couer de Baratta
filet roti à la broche pommes dauphine. Em seguida Medaillon Lagartiche Foie
Gras de Strasbourg. E, como sobremesa, me traga um Parfait de biscuit Estraguèe
avec Cerises Jubilée. Café. Beberei, durante o jantar, um Laffite Porcherrie
Rotschild 1934.— Muito bem - disse o garçon. E, dirigindo-se ao tigre — E o
senhor, que vai querer?
— Ele não quer nada — disse o
ratinho. — Nada? — tornou o garçon —
Não tem apetite? — Apetite? Que apetite?
— rosnou o ratinho enraivecido — Deixa de ser idiota, seu idiota! Então você
acha que se ele estivesse com fome eu ia andar ao lado dele?
Millôr Fernandes
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