2 de ago. de 2013

ROSA ENCANTADA


        Toda a riqueza e o conforto de que dispunha não faziam daquela jovem princesa uma pessoa plenamente feliz.
        Faltava-lhe algo! Havia um imenso e angustiante vazio em sua vida. Aflita, a herdeira do trono mandou chamar um ancião, conhecido por sua sapiência.
        Confessou-lhe a sua inquietação e rogou-lhe ajuda. O velho sábio, afagando os cabelos da jovem, sorriu e lhe falou: Está bem, alteza, daqui a três luas nascerá no jardim, ao amanhecer, a mais bela flor que os seus verdes olhos já viram... Será uma rosa encantada que trará em si a beleza, o perfume e o encantamento que lhe darão a alegria de que sentis tanta falta.
        A jovem sorriu, agradecida. Mas o velho advertiu: tende cuidado! A flor é sua e cabe-lhe o dever de cuidar dela... Caso contrário, perder-se-á a flor... Perder-se-á o encanto! A jovem aguardava, ansiosa, o momento de conhecer a flor encantada... Todos os dias ela ia até o jardim, para ver se já não teria nascido a sua rosa...
        Entretanto, encontrava apenas as flores comuns. Mas, na data prevista, aos primeiros raios do amanhecer, fez-se um burburinho no jardim, bem sob a janela da jovem princesa. Ela, irritada, levantou-se e foi à sacada para pedir silêncio. Mas, ao abrir a janela, viu, em meio à grama, o motivo do falatório: uma flor como jamais houvera antes
naquelas paisagens!
        Era realmente uma flor sem igual! Não se assemelhava às outras, em nada: nem no tamanho, nem na cor, nem no aveludado de suas pétalas, nem em seu perfume... A jovem vestiu-se às pressas e desceu as escadarias a passos rápidos. Atirou-se de joelhos na grama, maravilhada com a beleza da flor... Beijou-lhe as pétalas suavemente, inalou seu perfume inefável. Ordenou ao jardineiro que lhe desse tratamento especial: o melhor adubo, a
água mais fresca. Quase todo o reino foi chamado a conhecer a flor encantada, desde os súditos até sua
majestade, o grande rei. Todos queriam ver a rosa de que se falavam tão grandes coisas. Por isso, a jovem mandou chamar a guarda, para que houvesse sempre um soldado ao lado da flor, evitando que alguém a maltratasse ou roubasse. Mesmo assim, muitos curiosos se amontoavam em torno da flor, observando-a, inalando o seu
perfume, apreciando a sua beleza. Um dia, aborrecida com tantos visitantes, a princesa dispensou o soldado e
aguardou o anoitecer.
        Quando a noite estendeu seu manto negro por sobre o castelo, ela voltou ao jardim e arrancou dali a sua rosa encantada. Levou-a para seu quarto, e plantou-a num vaso de ouro cravado de gemas de valor, trabalhado pelo mais competente ourives de todo o reino. - Enfim - pensou a princesa, sorrindo - agora a rosa é só minha! E passou
toda a madrugada acarinhando a flor.
        Não recebia criados, amigos, nem mesmo seus pais... Estava feliz! Finalmente, a rosa era sua! Todavia, logo ao cair da tarde daquele dia a flor começou a apresentar mudanças... Seu perfume alterou-se. Sua cor escureceu. Suas pétalas enrugaram. Todas as tentativas para reavivá-la foram em vão. Na manhã seguinte, a rosa
estava morta!
        Infeliz, a jovem princesa chorou, tardiamente arrependida. Diante da flor amada, fonte de alegrias de nossas vidas, o ciúme é sempre mau companheiro. Encantamo-nos com sua beleza, com seu perfume, com seu sorriso, com seu olhar, mas tentamos policiar-lhe os gestos, os pensamentos, as atenções. A beleza das nuvens, o encanto das borboletas, a perfeição da águia, a graça das estrelas, a formosura das ondas, devem-se à sua liberdade.
        Podemos capturar o pássaro, mas não a alegria do vôo. Podemos armazenar a água, jamais as ondas!
        A borboleta, aprisionada, morre! Aquele que ama o sorriso não exige semblante fechado. Vale sempre lembrar a máxima: 'quem ama, liberta!'


 Colabora: Simone Coelho

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