A AUTO-ESTIMA
Sentir-se amado, acolhido, protegido, valorizado na infância é o alicerce da maturidade afetiva, a base da auto-estima e da confiança nos outros. Não se sentir amado, sentir-se rejeitado, desvalorizado é o primeiro degrau da imaturidade afetiva, e essa realidade ao longo do desenvolvimento da vida da pessoa distorce as motivações, gera conflitos nos relacionamentos, e dificulta a gratuidade e a liberdade de amar e ser amado(a).
"Tenham um justo conceito de si mesmos"
A auto-estima é a outra necessidade fundamental da pessoa humana, juntamente, com a necessidade de ser amado(a). Dessas duas necessidades, se satisfeitas ou não, dependem as relações, a felicidade ou infelicidade de uma pessoa. O que significa praticamente estimar-se a si mesmo? Ou mais concretamente, o que vive a pessoa que não tem estima por si mesmo? Quando alguém se sente, se percebe, se declara, se acredita inferior aos outros, quando se sente fundamentalmente incapaz, ignorante, inibida, tímida, insegura a maior parte do tempo, frente a muitas circunstancias da vida, e em diversas situações do cotidiano, pode-se afirmar que esta pessoa tem baixa estima de si. E, se vive essa realidade de forma inconsciente, pode-se dizer que ela tem complexo de inferioridade.
* As manifestações da baixa auto-estima são:
- medo de arriscar-se diante do novo, do público, do difícil
- medo do insucesso, do fracasso, da humilhação
- medo de ter opinião própria de expressar suas idéias
- medo de tomar e manter decisões pessoais
- medo dos outros, do que dizem, do que pensam e até do que nem dizem dela
- medo de não ter aprovação, dos questionamentos, observações, correções e criticas
- medo de errar, de reconhecer os próprios erros, limites, defeitos.
- Medo que faz a pessoa comparar-se aos demais e ver-se inferior ou
exageradamente superior, como forma invertida do sentimento de inferioridade.
Medo que paralisa, leva ao encolhimento, à recusa de desenvolver seu
potencial, à fuga. E esse medo que gera a insegurança e a sensação de
incapacidade.
A baixa auto estima e a carência afetiva produzem sentimentos de ansiedade, angústia, depressão. São vivências interligadas de tal forma que é quase impossível separá-las. Constata-se que a baixa auto-estima aparece mais, é possível percebê-la com mais facilidade, suas manifestações e suas defesas estão mais expostas, mas por trás, ligada à baixa auto-estima, está a carência afetiva; ou seja, por trás de um sentimento de inferioridade, está a sensação de não ser amado, de não ser aceito, não ser compreendido. Só o fato, de não se sentir amada leva a pessoa sentir-se inferior.
Essas duas necessidades: ser amado e ser valorizado quando razoavelmente
satisfeitas na infância dão consistência à personalidade, capacidade de enfrentar a vida com otimismo e fortaleza, serenidade e aceitação em ser o que se é, e é a condição de um desenvolvimento humano e religioso saudável.
Quando porém, essas necessidades não são suficientemente preenchidas e satisfeitas na infância, a pessoa torna-se frágil, com dificuldades de aproveitar e desenvolver seus dons, de acreditar em si e de enfrentar a vida com energia e coragem. Não significa que a pessoa tenha poucas ou nenhuma qualidade, mas vive como se assim fosse. Pelo fato de não acreditar e nem confiar em si.
* O que é boa auto-estima?
É a soma da confiança e do respeito por si mesmo, é o julgamento pessoal que
cada um faz de suas habilidades ao enfrentar os desafios da vida. É sentir-se apto, capaz, valioso, contente por ser aquilo que se é, acreditando em seu potencial e em suas possibilidades. A auto-estima positiva é o requisito principal para uma vida plena. É a chave do êxito. A auto-estima afeta de forma decisiva todos os aspectos da nossa experiência: no trabalho, no estado de vida, nas relações com os outros e com Deus. A
sensação de não ser amado e valorizado constitui um dos maiores sofrimentos emocionais humanos, e é fonte de defesas e desgaste de energias para obter a satisfação daquilo que lhe falta. Se essas necessidades são tão importantes e atuam em nós com tanta força, qual é a dinâmica, o movimento que produzem em nossa personalidade? A dinâmica dessas necessidades move-se em duas direções: - A busca de satisfação através do uso das outras forças da personalidade e dos mecanismos de defesa, para ocultá-las de si mesmo e dos outros. - Ataque, quando não conseguimos a satisfação.
* Nossas energias a serviço da dependência afetiva e da baixa auto-estima:
- Altruísmo:
É o viver voltado para os outros, buscando sempre o bem dos outros, através de gestos de dedicação que visam suprir as necessidades dos outros, é o que na vida cristã se chama de caridade. Porém, essa atitude de ajuda, muitas vezes esconde outras motivações, tendo como verdadeiro objetivo à busca de afeto e estima: ajudar aos outros, ser condescendente, ser incapaz de dizer não, com o fim de receber afeto e atenção. Fica distorcida a motivação. Inconscientemente, procura o reconhecimento e o agradecimento das pessoas. Exteriormente fica comprovada sua dedicação, caridade e generosidade, porém experimente-se não agradecer ou não aceitar o favor que a pessoa deseja fazer e verá as reações: fica com raiva, deprimida, triste, fecha-se, como que frustrada. De fato tudo isso pode ser expressão de bondade, amor, caridade, porém, muitas vezes, pode ser busca de auto-estima e de afeto. E quando os outros de fato, a agradecem, - lá no fundo - ela sente vazio e frustração, e não alegria por ter feito a caridade. Isso prova a origem da sua motivação.
- Êxito-Realização:
"Farei, organizarei coisas, eventos, terei êxito para que me apreciem pelo que faço e pelo êxito obtido, e ainda pelo dinheiro que virá". O perigo consiste na concentração naquilo que se faz, na função que exerce, sentindo-se desvalorizada, inferior quando não pode realizar, quando precisa deixar uma função, tendo que assumir uma atividade mais humilde no seu conceito, ou quando não pode trabalhar devido a uma doença, ou quando
precisam ocupar-se com atividades que não trazem gratificação.
- Dependência em forma de afiliação:
Pessoas que se unem e ligam-se a outras para trabalhar, partilhar, relacionar-se, viver em comunidade, em grupo, com o objetivo, às vezes inconsciente, de encontrar apoio, proteção, ajuda afetiva. E às vezes se chega ao extremo de não fazer nada sem consultar o parecer do grupo. Ou de se amoldar ao que o grupo espera da pessoa.
- Segurança e estima de si e dominação:
Há pessoas que se sentem ameaçadas e sua estima fica em perigo, quando precisam trabalhar juntos, em equipe, porque temem não poder mandar, dominar ou controlar. E por outro lado temem ser dominados ou perder a própria autoridade.
Há pessoas que fazem muita questão do poder e lutam para que ele esteja em suas mãos, porque só quando mandam, coordenam é que se sentem valorizadas, importantes, capazes e donas da situação ou do espaço. Há pessoas que não conseguem conviver bem com a autoridade em qualquer nível: o superior(a), o coordenador(a) do departamento ou setor, o chefe da equipe são sempre um problema e tem um problema com ele(a). Trocam de comunidade, de trabalho e uma das primeiras coisas que acontecem é o relacionamento difícil com quem coordena. Encontram sempre defeitos que justificam a dificuldade. Até obedecem, mas não se dão bem, não dialogam, porque "quem deveria coordenar seria eu, eu faço melhor, eu que sei organizar e teria jeito de distribuir bem as tarefas sem perdas de tempo e todos ficaram contentes e tudo funcionaria melhor". Trata-se de um conflito de autonomia e a intromissão de outra pessoa no seu mundo constitui uma ameaça à estima de si, que obtém ao desempenhar-se independentemente; à menor sugestão, aviso, olhar de censura ou sentimento de desvalorização com sua autonomia, reage agressivamente ou retira-se.
Enfim, os outros representam uma ameaça. Percebe o outro como dominador,
controlador e por isso precisa libertar-se dele. Tudo o que limita sua
liberdade de fazer o que deseja tende a provocar nele ou nela uma reação de
rígida independência, porque o permanecer dependente é igual a considerá-lo
como incompetente e não adulto.
- Estima de si e agressividade:
Certamente nós temos conhecimento de alguém que tudo critica, tudo observa,
tudo tem defeito, tudo cai debaixo de seus olhos e portanto, pode controlar.
Quanto mais intensa essa realidade maior será o sentimento de inferioridade
e a pouca estima de si. A agressividade é a arma de defesa quando tocam a
ferida dolorosa da baixa auto-estima. As pessoas agressivas têm um acentuado
sentimento de inferioridade e quanto mais agridem mais cresce esse
sentimento porque elas próprias se culpam e se desvalorizam após as
agressões, que dirigem aos outros, inclusive levando-as a sentirem-se
rejeitadas por isso.
Por outro lado, a agressividade cumpre uma função importante na superação
das dificuldades, na criatividade e na iniciativa em vencer o medo e à
acomodação, mas pode ser usada como hostilidade, força de destruição, perda
de controle, força bruta que machuca a si mesmo e aos outros.
* Mecanismos de Defesa
Os mecanismos de defesa são processos inconscientes que nosso eu usa para
enfrentar os conflitos com a realidade interna e externa. São uma
auto-proteção contra aquilo que ameaça a auto consideração. Negam,
falsificam, deformam a realidade interna e externa e agem automaticamente,
sem deliberação consciente. Entre os principais mecanismos usados para
enfrentar a carência afetiva e a baixa auto- estima estão:
- Racionalização
Racionalizar significa encontrar razões, explicações, justificativas para um
comportamento ou situação, ignorando as verdadeiras motivações, menos
aceitáveis, mas que são, de fato, a sua fonte. O perigo está em que a pessoa
pode acreditar em suas desculpas, impossibilitando e nem se permitindo ver à
verdade. Ex: a raposa que queria pegar as uvas, mas ao ser frustrada no seu
desejo e se vendo na impossibilidade de pegá-las, arranja uma desculpa e
diz: "as uvas estavam verdes mesmo!".
- Formação reativa
Por este mecanismo a pessoa sente e age exatamente ao contrário do que
instintivamente sentiria ou faria. Ex: A pessoa mostra-se super contente,
palhaço da corte, vive rindo exageradamente, mas no fundo com isso está
encobrindo uma profunda tristeza. Ou alguém que se mostra extremamente
acolhedora e amiga com uma pessoa que a irrita, incomoda, humilha e que por
isso interiormente detesta. A pessoa não sabendo como lidar com sua
agressividade, teme explodir, então se mostra muito gentil, educada.
- Compensação
É um esforço para contrabalançar os déficits que a pessoa tem; é uma medida
protetora contra o sentimento de inferioridade: o salto do sapato alto
demais em pessoas de baixa estatura; a última moda, a barba, muito bem
cuidada por sinal, as atitudes extravagantes, como falar alto, gargalhar,
podem estar mascarando outros sentimentos relacionados à inferioridade
física ou social. Assim a busca de status, de cargos, podem estar escondendo
o vazio interior.
- Projeção
Consiste em transferir para os outros aquilo que eu sinto ou vivo
inconscientemente, por exemplo: ver o outro sempre como complicado,
agressivo, ver a comunidade como vazia, fria, indiferente, o que muitas
vezes não é outra coisa que a expressão de como a pessoa se sente e vive.
- Deslocamento
É dirigir o afeto para um objeto diferente do apropriado descarregando suas emoções sobre o que é menos perigoso; Assim a mãe que foi traída não pode agredir o marido, bate nos filhos; o empregado humilhado pelo patrão
revolta-se contra sua mulher. A filha que não tem coragem de enfrentar o
pai, então transfere a agressividade para outra coisa, por ex: bate a porta,
agride os colegas, ou quebra a louça.
Esses são alguns dos mecanismos de defesa, que cada pessoa usa de acordo com a forma com que aprendeu a lidar consigo mesma e com os outros no decorrer da vida.
* Concluindo
A auto-estima é um pré-requisito humano para amar ao próximo, para estabelecer relações preciosas e libertadoras com outras pessoas, para amar
a si mesmo na justa medida e ser feliz.
A aceitação amorosa de si mesmo, com todas as suas sombras e luzes, é um aspecto essencial, não somente do amadurecimento humano, mas do crescimento espiritual, sentindo-se, aquilo que o Criador o fez: "imagem e semelhança de Deus". Somente a partir de uma verdadeira auto-estima é possível chamar a Deus de Abbá-Pai. Se não se ama a si próprio, se não se aceita tal qual é, se não reconhece as próprias qualidades, se não se alegra com seus próprios êxitos, se não é agradecido a Deus pela vida que lhe deu, se não recorda com gratidão os momentos alegres do seu passado, será impossível viver a paternidade de Deus como algo real, importante, crucial que muda nossas
vidas por completo.
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