Num vilarejo indiano, uma serpente morava em certo lugar por onde ninguém se atrevia a passar. Todos que o faziam eram mortalmente mordidos e envenenados no mesmo instante. Certa vez, um Mahatma (homem de alma elevada) passou pelo caminho, e a serpente correu atrás do sábio a fim de mordê-lo. Quando, porém, a serpente se aproximou do santo homem, perdeu toda a sua ferocidade e foi dominada pela mansidão do homem. Vendo a serpente, disse o sábio:
- Muito bem, amiga, pensas em me morder?
A serpente envergonhou-se e não respondeu. Então disse o sábio:
- Escuta, amiga; não maltrates mais ninguém no futuro.
A serpente curvou-se, mostrando que concordava. O sábio seguiu o seu caminho, e a serpente voltou ao seu lugar. Daí por diante, começou a levar uma vida de inocência e pureza, sem sequer tentar maltratar quem quer que fosse.
Dentro de poucos dias, toda a vizinhança começou a pensar que a serpente perdera todo o seu veneno e já não era perigosa. Assim, todo mundo passou a persegui-la. Alguns a apedrejavam, outros a arrastavam pela cauda impiedosamente, e, desse modo, não tinham fim os seus padecimentos.
Felizmente, o sábio tornou a passar pela estrada e, vendo como a boa serpente se encontrava ferida e maltratada, sentiu-se muito comovido e indagou-lhe qual fora a causa de tal coisa.
Ao que a serpente respondeu:
- Santo senhor, é porque não maltrato mais quem quer que seja, segundo o vosso conselho. Mas ai de mim! Eles não têm misericórdia!
Sorrindo, o sábio replicou:
- Minha cara amiga, eu simplesmente disse para não morderes quem quer que fosse, mas não disse para não amedrontares os outros. Embora não mordas qualquer criatura, podes conservá-las a uma considerável distância, com o teu silvo.
Do mesmo modo, se vives no mundo, faze-te temido e respeitado. Não maltrates os outros, mas também não se deixe ser maltratado.
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