23 de jul. de 2011

Quanto vale um "sim"
Você consegue um bom emprego na hora que bem entende? Você descola um amor do dia para a noite? Entra num banco e sai de lá com um empréstimo sem burocracia? Se você respondeu sim a todas estas perguntas, parabéns, e fique atento para o horário de partida do seu disco voador, pois a qualquer momento você terá que voltar para o seu planeta!

Entre nós, terrestres, o sim é uma resposta rara. Na maioria das vezes, não há vagas, não querem editar nossos poemas, não temos fiador, a garota não quer ouvir os discos em sua casa, o garoto não quer usar camisinha e o guarda de trânsito não foi com a sua cara e vai multá-lo sim senhor. Não está fácil pra ninguém.

Ao contrário do que possa parecer, esta não é uma visão pessimista da vida. As coisas são assim, dão certo e dão errado. Pessimismo é acreditar que um "não" seja uma barreira para realizar nossos planos. Tem gente que fica paralisado diante de um não, nunca mais vai à luta. Já o otimista resmunga um pouco e, em seguida, respira fundo e segue em frente.

Quando eu tinha uns dezessete anos, mandei meus versos para um concurso de poesia. Não ganhei nem menção honrosa. Daí, entreguei meus versos para o Mário Quintana avaliar. Ele não respondeu. Neste meio tempo, eu estava apaixonada por um cara e ignorava minha existência. Quando eu não estava pensando nele, fazia planos de morar sozinha, mas o meu estágio não era remunerado.

Aí quis viajar para a Europa, mas não conseguira entrar num programa de intercâmbio. Surpreendentemente, não passou pela cabeça a idéia de me atirar embaixo de um caminhão.

Hoje tenho nove livros publicados, cinco deles de poesia, sou casada com o homem que amo, tenho a profissão dos sonhos e viajo uma vez por ano, e tudo isso sem ganhar na megasena, sem cirurgia plástica, sem pistolão ou pacto com o demônio. O segredo: cada "não" que eu recebi na vida entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Não os colecionei, não foram sobrevalorizados; esperei sem pressa a hora do "sim".

O "não" é tão freqüente que chega a ser banal. O "não" é inútil, serve só pra fragilisar nossa auto-estima. Já o "sim" é transformador. O "sim" muda sua vida. "Sim", aceito casar com você; "sim", você foi selecionado; "sim", vamos patrocinar sua peça; "sim", Ana Paula Arósio deu o número do celular dela.

Quando não há o que detenha você, as coisas começam a acontecer sim.


Martha Medeiros

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