24 de ago. de 2012

AMAR NÃO É...



Há 50 anos ele nos estuda. Estuda, mais precisamente, nossas relações, nossa sexualidade, nossa dificuldade de amar e o que chama de mal da monogamia. Por suas idéias não convencionais já foi apelidado de terrorista social. José Angelo Gaiarsa não liga. Tudo o que quer aos 85 é continuar a nos investigar. Há 50 anos ele nos estuda. Estuda, mais precisamente, nossas relações, nossa sexualidade, nossa dificuldade de amar e o que chama de mal da monogamia. Por suas idéias não convencionais já foi apelidado de terrorista social. José Angelo Gaiarsa não liga. Tudo o que quer aos 85 é continuar a nos investigar

Viveríamos em um mundo mais justo e livre se fizéssemos mais amor. Ou, colocado de outra forma, se nossas relações sexuais fossem mais intensamente exploradas e menos reprimidas.
E ele diz isso bem antes dos Beatles entoarem “All We Need Is Love”. Ele diz isso, aliás, há exatos 50 anos, quando, aos 26 anos, concluiu a faculdade de medicina da USP e se deixou seduzir por Wilhelm Reich. Foi então que abandonou a formação altamente católica e começou a questionar e a investigar as relações humanas.
Agente das mudanças que gostaria de promover no mundo, teve cinco mulheres e, com duas delas, conseguiu aplicar sua teoria de amor livre. Funcionou. Mais para elas do que para ele.
Durante dez anos, de 1983 a 1993, suas idéias foram ao ar, diariamente, pela TV Bandeirantes. Eram seis minutos de papo com Gaiarsa, que respondia, ao vivo, a dúvidas de espectadores. Por sua franqueza, foi amado e odiado. Espécie de Alfred Kinsey (o biólogo e sociólogo que pesquisou tendências e práticas sexuais dos americanos na década de 40) brasileiro, autoditada quando o assunto é tudo o que tange a relações humanas e sexo, e defensor de formas mais livres de amor, já foi chamado de terrorista social.
Como tudo o que repele também intriga em igual proporção, é autor consagrado, já publicou 30 livros e passou mais de 60 mil horas em seu consultório ouvindo discursos inconformados sobre o que chama de lado podre da família. Com base nessas informações, foi reescrevendo seu código de ética e moral.
Invadimos o pequeno apartamento de Gaiarsa no fim da tarde de uma quarta-feira de setembro. Íamos atrás de seus conhecimentos no que toca o amor, a relação entre homens e mulheres, o gozo, a monogamia e a felicidade – questões que insistem em nos cutucar em doses diárias. E, sobre tudo isso, ele começou a falar no mesmo instante em que nos deixou entrar.
Ainda de pé, no meio da sala que dá vista para a Vila Madalena, bairro descolado de São Paulo, ficamos, por quase 15 minutos, sem conseguir fazer com que Gaiarsa interrompesse o raciocínio. Quando finalmente nos mudamos para o sofá, ali passamos mais três horas.
Aos 85, o psicanalista, quatro filhos, sete netos, está sozinho. Mas garante não se arrepender da vida que levou. Tudo porque, assim como Nietzsche, acreditou que a maior inimiga da verdade não é a mentira, mas a convicção. Com isso em mente, continua a nos estudar.


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